Frases Filosóficas

Assim esteve Deus para mim: primeiro, ausente, depois, desaparecido.

A vida é assim: peixe vivo, mas que só vive no correr da água. Quem quer prender esse peixe tem que o matar. Só assim o possui em mão. Falo do tempo, falo da água. Os filhos se parecem com água andante, o irrecuperável curso do tempo. Um rio tem data de nascimento? Em que dia exato nos nascem os filhos?

O segredo é demorar o sofrimento, cozinhá-lo em lentíssimo fogo, até que ele se espalhe, diluto, no infinito do tempo.

Era um homem que se entregava aos outros, capaz de outroísmos.

Quem pede sempre, não sabe querer.

Mas o silêncio é um ovo às avessas: a casca é dos outros, mas quem se quebra somos nós.

Toda a estória se quer fingir verdade. Mas a palavra é um fumo, leve demais para se prender na vigente realidade. Toda a verdade aspira a ser estória.

Eu quero a paz de pertencer a um só lugar, eu quero a tranquilidade de não dividir memórias. Ser todo de uma vida. E assim ter a certeza que morro de uma só única vez. Custa-me ir cumprindo tantas pequenas mortes, essas que apenas nós notamos, na íntima obscuridade de nós.

Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos.

No coração envelhecido de uma mãe, os filhos regressam sempre tarde.

As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão.

Quando regressava da pescaria, não tinha mais defesa para os olhos da mulher e dos filhos que se espetavam nele. Pareciam olhos de cachorro, custava admitir, mas a verdade é que a fome iguala os homens aos animais.

Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.

A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava sozinho.

Olhei o poente e vi as aves carregando o sol, empurrando o dia para outros aléns.

Somos madeira que apanhou chuva. Agora não acendemos nem damos sombra. Temos que secar à luz de um sol que ainda não há. Esse sol só pode nascer dentro de nós.

Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre a chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.

Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.

O voar não vem da asa. O beija-flor tão abreviadinho de asa, não é o que voa mais perfeito?

O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.