Frases de Carlos Nejar

Viver é descobrir a fronteira dos corpos.

Amar o que se toca e tudo o que reclama passagem entre nós e o que se ama.

A condição humana é a alucinada chama, o último reduto.

Coarar as emoções, junto às camisas e lenços, secando tudo isto, para os poder usar no serviço.

Forcei os símbolos, cansei os atributos. A condição humana não me dá salvo-conduto.

Há uma devastação nas coisas e nos seres, como se algum vulcão.

E nos moveremos, rio dentro do rio, corpo dentro do corpo, como antigos veleiros.

Aqui ficam as coisas. Amar é a mais alta constelação. Os sapatos sem dono tripulando na correnteza-espaço em que deitamos.

Limarás tua esperança até que a mó se desgaste# mesmo sem mó, limarás contra a sorte e o desespero.

Até que tudo te seja mais doloroso e profundo. Limarás sem mãos ou braços, com o coração resoluto.

Eu quis ficar mais um pouco e o teu corpo se iniciava na liturgia do vento.

Conhecerás a esperança, após a morte de tudo.

É preciso esperar contra a esperança.

Esperar, amar, criar contra a esperança e depois desesperar a esperança mas esperar, enquanto um fio de água, um remo.

Peixes existem e sobrevivem no meio dos litígios# enquanto bater a máquina de coser e o dia dali sair como um colete novo.

E o peito da esperança é não chegar# seu rosto é sempre mais.

É preciso desesperar a esperança como um balde no mar.

Não sou um tempo ou uma cidade extinta.

Eu quis ficar mais um pouco e o teu corpo e o meu tocavam inquietudes, caminhos, noites, números, datas.

Amei a pátria injustamente cega, como eu, num dos olhos. E não pôde ver-me enquanto vivo.

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