Somos todos parecidos: santos para viver, demónios para sobreviver.
Frases para Refletir
O problema da solidão é que não temos ninguém a quem mentir.
Só há um modo de enfrentar as más lembranças: é mudar radicalmente de viver, decepar raízes e fazer as pontes desabarem.
Não há conhecer sem lembrar. Mas o conhecer é um engano. E o lembrar é uma mentira.
Os lugares morrem como os frutos: quando já não dão semente.
As mãos não são nada sem o coração.
Os espíritos não vêm de nenhum lugar. São como a água: estão dentro de nós.
Nascemos e choramos. A nossa língua materna não é a palavra. O choro é o nosso primeiro idioma.
O livro deve ser objeto e mercadoria para chegar às nossas mãos. Mas só somos donos desse objeto quando ele deixa de ser objeto e deixa de ser mercadoria. O livro só cumpre o seu destino quando transitamos de leitores para produtores do texto, quando tomamos posse dele como seus coautores.
O escritor desafia os fundamentos do próprio pensamento. Ele vai mais longe do que desafiar os limites do politicamente correto. Ele subverte os próprios critérios que definem o que é correto, ele questiona os limites da razão.
O que um escritor nos dá não são livros. O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo. Esse universo nós o ignorávamos, mas existia em nós uma silenciosa lembrança de um fascínio perdido. A luz e sombra da página existiam já adormecidas dentro de nós. A leitura nos dá uma espécie de ré encantamento.
A escrita não é um veículo para se chegar a uma essência. A escrita é a viagem, a descoberta de outras dimensões e de mistérios que estão para além das aparências.
A arrogância da espécie humana coexiste com um sentimento contraditório de desproteção total. Nos dias de hoje, todas as nações, mesmo as mais poderosas, estremecem nas mãos de algo que nos escapa, um destino cego, um horizonte enevoado. De súbito, o Homem redescobre a sua fragilidade, a sua infinita solidão.
O dever do escritor para com a língua é recriá-la, salvando-a dos processos de banalização que o uso comum vai estabelecendo.
Quando me pergunto por que escrevo eu respondo: para me familiarizar com os deuses que eu não tenho. Os meus antepassados estão enterrados em outro lugar distante, algures no Norte de Portugal. Eu não partilho de sua intimidade e, mais grave ainda, eles me desconhecem inteiramente. As duas partes de mim exigiam um médium, um tradutor. A poesia veio em meu socorro para criar essa ponte entre dois mundos. E a cidade, a minha casa, a minha família: esses foram os aconchegos em que a poesia em mim nasceu.
A cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato, é isso que eu vejo quando revisito o meu lugar de nascimento. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialeto chamado memória, numa nação chamada infância.
5Falta-nos rir saudavelmente de nós mesmos. O não nos levarmos tão a sério pode ser a melhor cura para o pecado da soberba.
Essa habilidade em produzir diversidade, esse é o segredo da nossa vitalidade e das nossas artes de sobrevivência. Temos que saber manter essa capacidade – agora no plano cultural e civilizacional – para respondermos às novas ameaças que sobre todos nós pesam. As saídas que nos restam pedem-nos não o olhar do lince, mas o olho composto da mosca.
A cidade não é apenas um espaço físico, mas uma foija de relações. É o centro de um tempo onde se fabricam e refabricam as identidades próprias.
Há coisas que são resolvidas por governos. Há coisas que nenhum governo é capaz de resolver. Seremos nós, com o tempo que nos for concedido, que resolveremos. Por via da nossa cidadania em construção.