A fé e a caridade são afetos muito fidalgos, e muito bons de contentar. A fé para crer, basta-lhe uma profecia e fica satisfeita# a caridade para amar, quando não tenha benefícios, bastam–lhe agravos, que o amor até de ofensas se sustenta.
O que se põe em questão e disputa, igualmente se põe em dúvida# e quem duvida da sua fé, qualquer que seja, já é herege dela.
O amor é o preceito# a correspondência, a obrigação# o amar, império# o ser amado, obediência.
Assim como o amor só com amor se conquista, assim não há amor tão forte, ou tão fortificado, que se não renda a outro amor.
Estar todo em todo e todo em qualquer parte é propriedade só dos espíritos# e assim está em nós a nossa alma.
O amor essencialmente é união, e quanto mais une ou procura unir os que se amam, tanto maiores efeitos tem, e tanto maiores afetos mostra de amor.
O amor em matéria de ausência, se é sofrido, não é grande# se não é impaciente, não é amor.
Amar e não ser amado é o maior tormento# ser amado e não amar é a maior injustiça.
O tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.
O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo.
Amar e não ser amado é ser mártir# ser amado e não amar é ser tirano.
O amor sempre é amoroso, mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta os extremos mais distantes# enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos.
Não é amante quem morre porque amou, senão quem amou para morrer.
Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma, porém o primeiro rendido é o entendimento.
Quem quiser apurar os quilates do amor, toque o amor do que se ama com o amor do que se deixa, e logo conhecerá quão fino é.
O amor pesa-se na balança da paciência: padecer menos, é amar menos# padecer mais, é amar mais.
Entregar o coração com os olhos abertos, é querer a vista por prémio do amor: entregar o coração com os olhos fechados, é não querer no amor nem o prémio da vista.
Quem padece muito pelo que muito ama, a sua cruz é a sua glória.
O tudo deste mundo e do outro é a alma, não é o mundo.
Quem não pergunta por ignorância, pergunta por gosto.