Frases de José Luís Peixoto

Todos temos uma noite para lá de nós, uma noite cega. É a sua imagem concreta a partir da imagem vaga, embaciada pela memória e misturada comigo, que me importa.

As crianças, atentas ao presente, agora-agora, conseguem transformar tempo comum em férias. Eu, ao deixar de saber como fazê-lo, ganhei a capacidade de observá-lo.

Nem eu nem tu compreendemos o medo. Nunca consegui entender a razão por que, nos filmes e nos desenhos animados, está implícito o medo de fantasmas que apenas pairam e que, às vezes, fazem buu. Compreendo o susto, não compreendo o medo.

O respeito é sempre baseado na admiração, exceto quando é inspirado pelo medo.

A lógica, o absurdo da lógica e a lógica precisa, milimétrica, do absurdo são para mim assuntos que me absorvem, como se fossem, de facto, a primeira regra da minha vida.

O mundo dá a inocência por momentos. O mundo leva a inocência consigo, como um barco que se afasta cada vez mais do sítio de onde partiu. A inocência fica lá longe.

Somos passageiros, somos instantes diluídos em séculos de vontades e de destinos.

Uma única vida é pouco. Para se fazer aquilo que se sabe, se pode, se quer e se deve fazer é preciso deixar muitas outras coisas para trás.

Desistir, como morrer, não é sempre mau. Há vezes em que não se pode evitar. Todos nos dizem continua, continua, mas é o mundo que desiste, inteiro, à nossa volta.

Existe aquele tempo parado. Aquela dor que não tem nome. Todos os dias entramos e saímos por portas, todos os dias respiramos, todos os dias erguemos a memória do mundo: manhãs de sol. Às vezes, duvidamos do tempo. Sabemos rir. Tentamos planos como crianças que dão os primeiros passos.

Se a lógica explicasse tudo, a felicidade poderia ser calculada. A lógica é sempre o mais fácil, é sempre o caminho mais simples. Infelizmente, o mundo não se compadece com essas invenções.

O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir.

As palavras são bonitas antes do seu significado. Depois de significarem, as palavras são como as pessoas. Podem ser tudo ao mesmo tempo. Todas as palavras podem ser tudo ao mesmo tempo.

Mas o que é a felicidade? Se a alcançássemos, seríamos capazes de possuí-la?

O futuro é o grande enigma. É a luz que cega, o sol. Mas, como com o sol, é necessário e saudável que se abram as janelas, que se respire, que se fechem os olhos e se sinta na pele.

Hoje, as naturezas-mortas são feitas da passagem do homem pelo meio e não de uma composição geométrica de frutas, que apodreceram após uma semana e que, só ali, na tela, permanecem perfeitas e ridículas.

O espelho do nosso próprio olhar serve sobretudo para nós. É o mundo que tem a capacidade de nos definir. Nós definimo-lo a ele e, justiça simétrica, ele define-nos a nós.

Não é bom ter certezas em relação a tudo. São as incertezas que esbatem os contornos, que diluem as cores. Precisamos das incertezas para não sermos geométricos e insuportáveis.

Para a escrita de um texto literário, ter uma ideia é tão importante como ter um computador. Conseguir uma mesa é facultativo, mas tem a sua importância. Uma folha de papel de nada serve sem uma esferográfica ou um lápis. Para escrever um texto literário, é absolutamente essencial escrevê-lo.

Eu preciso de escrever romances. Neste momento da minha vida escrever romances é algo que me faz sentir válido e me dá força para acordar de manhã, para fazer tudo o que não me apetece fazer.

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