A loucura em que tenho andado com raparigas apesar de todas as minhas dores de cabeça, insónias, cabelo grisalho, desespero. Vou contá-las: pelo menos seis desde o Verão. Não consigo resistir, se não cedo fico literalmente com a língua de fora, e admiro todas as que são admiráveis, e amo-as até acabar a admiração. Perante as seis a culpa que sinto é quase só interior, embora uma das seis se tivesse queixado de mim a uma pessoa.
Amargo, amargo, esta é a palavra mais importante. Como tenciono eu soldar fragmentos uns aos outros numa história que tudo arrasta consigo?
É possível que a razão e o desejo descubram primeiro aos meus olhos o perfil nu do futuro, e que eu de facto me mova passo a passo para este mesmo futuro apenas debaixo dos seus empurrões e dos seus golpes inexoráveis?
Os contras de se viver com outras pessoas. Imposto pela distância, pela compaixão, piedade, prazer, cobardia, vaidade e só muito no fundo, talvez, uma ténue corrente digna da designação de amor, impossível de procurar, brilhando uma vez num momento do momento.
A criatura ineficaz, hesitante, frágil – um telegrama arrasa-o, uma carta leva-o logo a pôr-se de pé, reanima-o, o silêncio que se segue à carta lança-o para a apatia.
As trompetes de alarme do nada.
De novo arrastado por esta racha terrível, comprida, estreita, o que na realidade só em sonhos se pode obrigar a fazer. De propósito e acordado de certeza que nunca conseguiríamos.
Em tempos de paz não se chega a parte nenhuma, em tempos de guerra sangra-se até à morte.
É ridículo colocares arreios em ti mesmo para este mundo.
Que significado têm hoje as conclusões de ontem? Têm o mesmo significado do que ontem, são verdadeiras, só que o sangue escorre pelas fendas das grandes pedras da lei.
Valentia: um composto castrense de vaidade, dever e fé de jogador.
Tolice: aquela «graça e faculdade divinas» cuja energia criadora e dominante inspira a mente do Homem, guiando as suas ações e alegrando a sua vida.
Vencer: criar um inimigo.
Velhice: aquele período da vida no qual ajustamos os vícios que ainda temos, denegrindo aqueles que já não conseguimos satisfazer.
Verdadeiro: estúpido e iletrado.
Verdade: um engenhoso composto de desejo e aparência. A descoberta da verdade é o único objetivo da filosofia, que é a mais antiga ocupação da mente humana, com excelentes perspectivas de continuar a aumentar a sua atividade até ao fim dos tempos.
Dinheiro: uma benção que não nos traz vantagem exceto quando nos separamos dele.
Vizinho: indivíduo que, segundo os mandamentos, devemos amar como a nós próprios, embora ele faça tudo o que sabe para nos levar à desobediência.
Virtudes: certas abstinências.
O conhecimento é a pequena porção da ignorância que arrumamos e classificamos.