Frases de Agustina Bessa-Luís

Casamento – é muito difícil conhecer uma pessoa com quem se vive muito próximo, porque há um fenómeno de desfocagem, porque se está tão próximo não há uma perspectiva para conhecer, só para amar.

É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.

Quase ninguém repara em ninguém. Em parte, porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.

Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.

Os tempos são ligeiros e nós pesados, porque nos sobram recordações. Quem se alimenta delas sofre e descuida as alegrias, mesmo que sejam rápidas e se escondam da nossa razão.

A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie.

Há três maneiras de viver numa civilização: com as convicções partidárias, com o julgamento dinâmico do homem livre, ou com os impulsos do coração. Todas elas podem ser honrosas ou infames; depende da inspiração que sofrem umas das outras. Pois nada é completamente necessário senão na medida em que depende duma outra realidade.

Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.

Um povo já não acredita nas promessas dos governantes, porque perdeu a vontade fanática que o levava a acreditar e a tecer razões para isso.

O mundo não precisa de originais, mas de criaturas livres para além de todas as possibilidades humanas.

O amor dos animais contém muito da desaprovação pelos seres humanos e é próprio dum melindroso estado de revolta que não encontrou a sua linguagem.

Politizar sem primeiro instruir provoca a intervenção do mais grosseiro rosto dos desejos humanos. Aparece a cupidez e a insolência, e por aí adiante.

O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.

Dizem mal de tudo com uma insinceridade genial. Os Portugueses são a gente mais insincera que há. Por isso são raramente grandes artistas.

O importante é não perder o estilo, e, se possível, não perder o dinheiro também. Porque o estilo sem dinheiro é uma infiltração do mau gosto.

No fundo, agradece-se que não haja grandes governantes; eles trazem a ordem, portanto a proibição de escolha a uma consciência em estado de profunda reprovação. Um governante iluminado causa mais males do que duzentos que estejam pouco empenhados na felicidade humana.

A paz não tem figura nem desejo absoluto; viver em paz não é viver; (…) a paz é um absurdo, como a realidade concreta é um absurdo que é preciso recriar para que se torne afeto do homem, obra sua.

Fim – o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa.

Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.

Demasiada lucidez é culpada num mundo de cegos, que com a cegueira se contemplam sem desastre de maior.

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