Frases de Antônio Mariano de Oliveira

É um velho paredão, todo gretado, roto e negro, a que o tempo uma oferenda deixou num cacto em flor ensanguentado e num pouco de musgo em cada fenda.

Serve há muito de encerro a uma vivenda; protegê-la e guardá-la é seu cuidado; talvez consigo esta missão compreenda, sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata, e em cheio brilha; a solidão se estrela toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua, olha em redor, espreita a sombra, e vela, entre os beijos e lágrimas da lua.

Mas, talvez por contraste à desventura – quem o sabe? – de um velho mandarim também lá estava a singular figura;

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a sentia um não sei quê com aquele chim de olhos cortados à feição de amêndoa.

Ser palmeira! existir num píncaro azulado, vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando; Dar ao sopro do mar o seio perfumado, ora os leques abrindo, ora os leques fechando;

Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol, e no azul dialogar com o espírito das flores, que invisível ascende e vai falar ao sol;

Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa, dilatar-se e cantar a alma sonora e quente das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa, dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;

E juntando a essa voz o glorioso murmúrio de minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus, ir com ela através do horizonte purpúreo e penetrar nos céus;

Ser palmeira, depois de homem ter sido! est’alma que vibra em mim, sentir que novamente vibra, e eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma, e a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;

E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques treme, e estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó, tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme, e, como um pavilhão, velo lá em cima eu só

Que bom dizer então bem alto ao firmamento o que outrora jamais – homem – dizer não pude, da menor sensação ao máximo tormento quanto passa através minha existência rude!

E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem, quando aos arrancos vem bufando o temporal, – Poeta – bramir então à noturna bafagem meu canto triunfal!

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o casualmente, uma vez, de um perfumado, contador sobre o mármor luzidio, entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado nele pusera o coração doentio em rubras flores de um sutil lavrado, na tinta ardente, de um calor sombrio.

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