Esta palavra é a disciplina da tua mãe.
Frases de Paul Celan
A discípula da tua mãe partilha o teu jazigo, pedra a pedra.
A discípula da tua mãe inclina-se para a migalha de luz.
A alma da tua mãe ajuda a noite a navegar, escolho após escolho.
A alma da tua mãe fustiga os tubarões à tua frente.
A alma da tua mãe flutua adiante.
Olhos: brilhantes da chuva que caiu quando Deus me mandou beber.
Olhos: ouro, que a noite me contou nas mãos, quando colhi urtigas e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.
Olhos: noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes saltei pelos lugares da eternidade.
O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos teus olhos pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o outono.
Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem um terceiro: sorvemos um último vazio.
Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais depressa um ao outro os alimentos: a noite é a noite, começa com a manhã,
é ela que me deita a teu lado.
Aqui, coração que andou entre os homens, arranco do corpo as vestes e o brilho de uma jura.
Na fonte dos teus olhos vivem os fios dos pescadores do lago da loucura. Na fonte dos teus olhos o mar cumpre a sua promessa.
Mais negro no negro, estou mais nu. Só quando sou falso sou fiel. Sou tu quando sou eu.
Na fonte dos teus olhos ando à deriva sonhando o rapto.
Um fio apanhou um fio: separamo-nos enlaçados.
Na fonte dos teus olhos um enforcado estrangula o baraço.