Frases Filosóficas

A verossimilhança de uma obra de arte (de um romance, por exemplo, que é o que mais me importa) é a coerência interna dos seus elementos.

Não há uma verdade «em si». Há é uma verdade «em nós». Tudo o mais já não interessa à conversa.

Quanta explicação para a história do homem. Mas é tão simples, afinal. A história do homem é a história da importância de nós. O resto são maneiras ou expedientes ou condicionamentos de isso se efetivar.

Há em nós um segredo que nós mesmos não sabemos. Mas é bom isso. Porque sabê-lo era decerto perder a alma.

Há tipos que só conhecem a morte por ouvirem dizer. São exatamente os mesmos que só por ouvirem dizer conhecem também a vida.

Tudo se pode aprender, exceto a morte. Porque só se aprende o que já está em nós. E a morte não está.

É muito difícil conhecer as nossas limitações. Porque dentro de uma casa não se vê essa casa.

Disse eu atrás que o saber embaraça a criatividade. Na realidade talvez não embarace. Mas ele opera como os sinais de trânsito e canalizam a criação para um terreno já percorrido.

Ama o próximo como a ti mesmo. É um grande risco. Eu, por exemplo, detesto-me.

Ter firmeza de carácter não é dizer sempre que 2 + 2 = 4. É dizer por exemplo que são cinco – e persistir…

Uma convicção num jovem é a desordem, num adulto, um equilíbrio, num velho, uma mania.

Toda a verdade convicta cria logo discípulos. Porque o que seduz na força da verdade é a verdade da sua força. Com a verdade criou-se um sistema, com a força pode criar-se um império. E o domínio importa mais do que o saber. A verdade é impessoal, o domínio não.

O amor acaba quando acaba o que há nele de impossível.

Atenção. Já o devo ter dito, mas não há mal em repetir: O «estilo» não é da ordem do enfeite, mas da operacionalidade.

O autodidata pode saber tudo. Exceto o porquê é que isso se deve saber.

O autodidata é um novo-rico. Sabe as coisas, mas não sabe como usá-las. Normalmente usa-as ao peito, que é onde supõe que apenas são visíveis. Mas onde elas se veem não é onde se veem.

Ser feliz é não saber que se o é. Como só se sabe da saúde quando se está doente.

Somos o que somos por efeito do que se é e não do que se acumulou sobre isso. O que se acumula apenas coordena o que já se é no nível a que se vai ser.

Há um belo dito popular que é assim: Deus nos livre do que um homem pode aguentar. Lembrei-me de lhe contrapor outro: Deus nos não dê tudo o que um homem pode desejar. Num caso e noutro o limite seria a morte.

Um prazer não está só nele, mas ainda e sobretudo em poder interromper-se.