Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
Talvez seja a espessura desse céu que faz os cacimbeiros sonharem tanto. Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco.
O céu ainda não está acabado. São as mulheres que, desde há milénios, vão tecendo esse infinito véu.
Falar é fácil. Custa é aprender a calar.
Somos donos do tempo apenas quando o tempo se esquece de nós.
As ideias não nascem de uma base física, mas dos nossos encontros e desencontro da vida.
A tristeza é uma janela que se abre nas traseiras do mundo.
O homem sábio é o que sabe que há as coisas que nunca vai saber. Coisas maiores que o pensamento.
É que em todo o lado, mesmo no invisível, há uma porta. Longe ou perto, não somos donos, mas simples convidados. A vida, por respeito, requer licença.
A vida, meu filho, é uma desilusionista.
Agora sei: apenas o amor nos rouba do tempo.
Que o amor é como o mar: sendo infinito espera ainda em outra água se completar.
Os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.
O pranto descouta a nossa mais íntima nudez. Pela lágrima nos despimos.
O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início.
Não me basta ter um sonho. Eu quero ser um sonho.
Orgulhoso, respondeu aos apressados: esperar não é a mesma coisa que ficar à espera.
A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?
Não era de água a sua sede. Queria palavras. Não dessas de uso e abuso, mas palavras tenras como o capim depois da chuva. Essas de reacender crenças.
A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. Quem deve sentir vergonha não é o pobre mas quem cria pobreza.