Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias.
Frases para Refletir
Como escritor, a Nação que me interessa é a alma humana. (…) Cada pessoa é uma nação.
Nação e etnia podem viver sem conflito. Como aconteceu em inúmeros momentos históricos. Mas são também oportunidade para demagogos e ambiciosos promoverem os seus interesses pessoais ou de grupo.
O jornalista atribui a si mesmo uma missão, e essa missão tem notáveis semelhanças com uma operação de guerra: trata-se de conquistar audiências, bombardear com notícias num tempo precioso e milimetricamente calculado. O jornalista está em cima do acontecimento como se o evento fosse um alvo preciso. O acontecimento é a presa dessa aranha que é o repórter, nessa teia noticiosa que dá a volta ao planeta.
As palavras e os conceitos são vivos, escapam escorregadios como peixes entre as mãos do pensamento. E como peixes movem-se ao longo do rio da História. Há quem pense que pode pescar e congelar conceitos. Essa pessoa será quanto muito um colecionador de ideias mortas.
África vive numa situação quase única: as gerações vivas são contemporâneas da construção dos alicerces das nações. O que é o mesmo que dizer os alicerces das suas próprias identidades. É como se tudo se passasse no presente, como se todas as nações se entrecruzassem no mesmo texto. Cada nação é assunto de todos, uma inadiável urgência a que ninguém se pode alhear. Todos são cúmplices dessa infância, todos deixam marcas num retrato que está em gestação.
A imagem é tanto mais bela quanto ela for auditiva, evocando sonoridades do momento.
Nós criámos um sistema que gera dificuldades para os menores assuntos. A dificuldade cria uma oportunidade para expedientes, para oportunismos diversos. Este sistema não é exclusivo de Moçambique. É comum em todo o mundo. Mas este sistema nos faz sentir estranhos, pequenos e deslocados.
Podemos ser diversas coisas. O erro é quando queremos ser apenas uma. O erro é quando queremos negar que somos diversas coisas ao mesmo tempo.
O coração de um homem ou de uma mulher não obedece a imperativos de consciência. Ninguém namora por dever.
Temos que ter cautela sobre a facilidade com que invadimos a alma dos outros. Quem nos autoriza a falar com tanta ligeireza dos outros? Nenhuma cidadania me pode dar esse direito de falar em público sobre a intimidade de seja quem for. Podemos discutir casos gerais, princípios, ideias, mas não temos o direito de trazer para o jornal os assuntos da alma e do coração de qualquer cidadão.
Muitos dos debates que atravessam hoje o nosso espaço público é curioso. Por vezes eles resvalam para a agressão. Deixamos de discutir ideias para atacar pessoas. A necessidade de ter razão, de ganhar a todo o custo, atropela os deveres do civismo que é uma das razões de estarmos aqui. Os debates deveriam servir para criarmos coletivamente conceitos produtivos, criarmos ideias que sejam construtoras.
O silêncio é, tanto quanto a palavra, um momento vital de partilha de entendimento.
Um homem não é uma margem que apenas existe de um ou de outro lado. Um homem é uma ponte ligando as diversas margens.
Tenho escrito repetidamente que o nosso maior inimigo somos nós mesmos. O adversário do nosso progresso está dentro de cada um de nós, mora na nossa atitude, vive no nosso pensamento. A tentação de culpar os outros em nada nos ajuda. Só avançamos se formos capazes de olhar para dentro e de encontrar em nós as causas dos nossos próprios desaires.
Se a razão é a poesia – e a minha causa é só essa, a criação poética – então, o importante não é tanto a língua, nem sequer o quanto ela nos é materna. Mais importante é essa outra língua que falamos mesmo antes de nascermos. Nesse registo está a porta e o passaporte em que todos nós fazemos humanos, fabricadores da palavra e, com igual mestria, criadores de silêncio.
O acumular de crises e o compensar dos crimes contra a ética convidam-nos a uma desistência da alma. Todos os dias uma silenciosa mensagem nos sugere o seguinte: o futuro não vale a pena. Há que viver o dia-a-dia, ou na linguagem dos mais jovens: há que curtir os prazeres imediatos.
Quem vive num labirinto, tem fome de caminhos.
O desânimo é uma doença contagiosa. E pode ser fatal. Cedemos a essa contaminação como que arrastados por uma vertigem e algo se derrama para sempre.
Quando me pergunto por que escrevo eu respondo: para me familiarizar com os deuses que eu não tenho.