Frases de António Lobo Antunes

Quando lês um livro de uma pessoa que conheces, o livro fica diferente. Quando leste vários livros de um escritor que não conheces e depois conhecê-lo, sejas ou não amigo dele, o livro fica diferente.

Nós não inventamos nada. Quando estamos a fazer um livro estamos a falar de nós mesmos. É você que está no livro, através daquelas vozes. Ou melhor, é apenas uma voz.

Qualquer entrevista é muito inferior a um livro. O livro permite corrigir-se. A entrevista necessariamente está cheia de lugares comuns.

Não tenho pensamentos abstratos quando estou a escrever. Estou tão preocupado a fazer o livro que nem sequer me pergunto o que é que isto quer dizer, nem sequer pergunto o que estou a escrever. Às vezes nem sequer sabemos se estamos a acertar no papel. Só quando se começa a trabalhar é que se vê se acertámos ou não.

No fundo, um escritor é um bocado um ladrão, um gatuno de sentimentos, de emoções, de rostos, de situações.

A única coisa realmente importante na vida é a amizade.

Escrever ainda é fundamentalmente uma questão de trabalho, trabalho, trabalho. O escritor bom é aquele que trabalha as coisas o suficiente. Porque as primeiras versões são sempre más, vêm à primeira vez: é uma questão de trabalhar sobre aquilo.

Um livro mau é quando a pessoa esconde a incapacidade de fazer uma história atrás de elucubrações filosofantes. Se um escritor não agarra o leitor pelas tripas logo nas primeiras páginas, está feito ao bife.

No fundo, escrever é um delírio, assim como algo que produzem os esquizofrénicos, e a que se dá uma determinada ordenação, uma sistematização.

Teria dificuldade em viver com uma mulher que escrevesse. Eu nunca seria o mais importante na vida dela, viria sempre depois dos livros.

Não me interessa estar a escrever para pessoas importantes, as pessoas que me procuram para se tratar comigo não são pessoas importantes, são pessoas que precisam de mim.

É terrível uma pessoa sentir-se o centro do Mundo, mesmo para si própria. Dá um alívio bestial – a gente vê isso nas análises – quando um gajo descobre que deixa de ser o centro do Mundo e que as outras pessoas são iguais a ela, que ela deixa de ser realmente o centro, o sol, a coisa mais importante.

Não sei o que é o ódio. Ou gosto das pessoas ou não existem para mim.

Compreendi o valor da amizade, em momentos especiais, quando o Céline me escreveu, quando o Jorge Amado me escreveu, ambos com uma grande estima e uma grande amizade. Isso fez-me pensar que havia pessoas mais generosas e melhores do que eu. Ser amigo é a única forma de se estar com os outros.

Não podemos piscar o olho ao público. Se o fizermos estamos lixados. Não obstante, escrevemos para ser lidos. Ninguém, nem mesmo os que escreveram diários em cifra, escreve para não ser lido. Eu escrevo procurando o afeto do leitor, dos escritores, mas sem nunca lhes abrir as pernas. Não me castro em concessões.

A inspiração faz-me confusão. Nunca a tive. Acho-a uma desculpa para não fazer nada.

Quando lemos um bom escritor é para nos conhecermos a nós mesmos.

Não há sentimentos puros, nem na amizade nem no amor; e o amor vem sempre misturado com outras coisas, o ódio e a inveja e a gente quase querem mal à outra pessoa por gostar dela.

Ninguém é mais crédulo do que um desesperado.

Quem lê é a classe média.

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