As nossas estradas já tiveram a timidez dos rios e a suavidade das mulheres. E pediam licença antes de nascer. Agora, as estradas tomam posse da paisagem e estendem as suas grandes pernas sobre o Tempo, como fazem os donos do mundo.
Frases Recentes
O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências. Em outro ser, o morto irá renascer. A nossa dor é a de não sabermos ser imortais.
Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados.
A guerra é uma parteira: das entranhas do mundo faz emergir um outro mundo. Não o faz por cólera nem por qualquer sentimento. É a sua profissão: mergulha as mãos no Tempo, com a altivez de um peixe que pensa que ele é que faz despontar o mar.
A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.
Fazer amor, sim e sempre. Dormir com uma mulher, isso é que nunca. Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso é que é íntimo. Um homem dorme nos braços de uma mulher e a sua alma transfere-se de vez. Nunca mais ele encontra as suas interioridades.
A escola foi para mim como um barco: me dava acesso a outros mundos. Contudo, aquele ensinamento não me totalizava. Ao contrário: mas eu aprendia, mais eu sufocava.
Diz a mãe: a vida faz-se como uma corda. É preciso trançá-la até não distinguirmos os fios dos dedos.
A estrada é uma espada. A sua lâmina rasga o corpo da terra. Não tarda que a nossa nação seja um emaranhado de cicatrizes, um mapa feito de tantos golpes que nos orgulharemos mais das feridas que do intacto corpo que ainda conseguimos salvar.
O homem sem mulher, sem filho, é como quem não tem espelho.
Há perguntas que não podem ser dirigidas às pessoas, mas à vida. Pergunte à vida, senhor. Mas não a este lado da vida. Porque a vida não acaba do lado dos vivos. Vai para além, para o lado dos falecidos.
A urina de um homem sempre cai perto dele.
Quem voa depois da morte? É a folha da árvore.
Não aspire ser centro de nada. A importância aqui é muito mortal. Veja, por exemplo, essas aveias que pousam no dorso dos hipopótamos. Sua grandeza é o seu tamanho mínimo. É essa a nossa arte, nossa maneira de nós fazermos maiores: catando nas costas dos poderosos.
Um homem se pode medir pelo jeito como anda.
A boca é grande e os olhos são pequenos. Ou como se diz aqui: o burro come espinhos com a sua língua suave.
Os homens são assim, fingidos de força, porque têm medo.
Para si, meu filho, para si que estudou em escola, o chão é um papel, tudo se escreve nele. Para nós a terra é uma boca, a alma de um búzio. O tempo é o caracol que enrola essa concha. Encostamos o ouvido nesse búzio e ouvimos o princípio, quando tudo era antigamente.
A cinza voa, mas o fogo é que tem asa.
Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo. (…) O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história.