Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa, dilatar-se e cantar a alma sonora e quente das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa, dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;
Frases de Amor
E juntando a essa voz o glorioso murmúrio de minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus, ir com ela através do horizonte purpúreo e penetrar nos céus;
Ser palmeira, depois de homem ter sido! est’alma que vibra em mim, sentir que novamente vibra, e eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma, e a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;
E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques treme, e estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó, tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme, e, como um pavilhão, velo lá em cima eu só
Que bom dizer então bem alto ao firmamento o que outrora jamais – homem – dizer não pude, da menor sensação ao máximo tormento quanto passa através minha existência rude!
Ser palmeira! existir num píncaro azulado, vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando; Dar ao sopro do mar o seio perfumado, ora os leques abrindo, ora os leques fechando;
Parece até que o rio tem saudade como eu, que também sou dessa maneira, saudoso e triste em plena mocidade.
Num angulo do tecto, agil e astuta, a aranha sobre invisivel tear tecendo a tenue teia, arma o artistico ardil em que as moscas apanha e, insidiosa e subtil, os insectos enleia.
Faz do fluido que flue das entranhas a extranha e fina trama ideal de seda que a rodeia e, alargando o aronhol, os élos emmaranha do alvo disco nupcial, que a luz do sol prateia.
Em flóculos de espuma urde, borda e desenha o arabesco fatal, onde os palpos apoia e, tenaz, a caçar os insectos se empenha.
E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem, quando aos arrancos vem bufando o temporal, – Poeta – bramir então à noturna bafagem meu canto triunfal!
Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o casualmente, uma vez, de um perfumado, contador sobre o mármor luzidio, entre um leque e o começo de um bordado.
Dá-se em mim o fenômeno sombrio, da refração das árvores da beira na superfície trêmula do rio…
Cego, tacteio em vão, num caminho indeciso…Que é feito desse amor que tanto me entristece, que nasceu de um olhar, germinou num sorriso, que viveu num segredo e morreu numa prece?!
É um mysterio talvez; desvendal-o preciso. A alma sincera e justa—odeia, não esquece… Si essa a quem tanto quiz hoje me não conhece, morra a ventura vã que debalde idéaliso.
Ai! desse amor nasceu a dor que me subjuga: A dor me fez verter a lagrima primeira, e a lagrima, a brilhar, cava a primeira ruga…
Atra desillusão crava-me a garra adunca. Cego de amor, em vão tacteio a vida inteira, buscando o amor feliz e esse amor não vem nunca.
Persigam-te as prisões fortes do meu ciúme —Invisíveis grilhões de desejo e de zelo: Prendam-te as mãos, os pés, as ondas do cabello, o olhar, o hálito, a voz e o que em ti se resume.
Ronda-te o meu olhar, como o olhar de um morcego varando o brumo véo de uma noite de crime, prescrutando, a seguir-te —onde chegas eu chego.
Foges? Em vão fugir —o ciúme priva a fuga…E esse amor que te busca e te cerca e te opprime, é o mesmo que me afflige, acobarda e subjuga.